Saturday, November 26, 2011

NÃO ALIMENTAR O QUE DEVE MORRER,NÃO SEMEAR O QUE NÃO DEVE NASCER.


Antes de praticar yoga,ou melhor,entre a paragem desde as primeiras práticas efectuadas sem o minímo compromisso com o yoga e o seu estudo,há muitos anos atrás,e o compromisso com um sadhana diário e contínuo,que tento que não se confine somente a shala de práticas,houve um período de limbo,de experiências bem marcantes,que se de certa forma me marcaram pesadamente,esculpindo aspectos e traços de personalidade bem dificeis de serem trabalhados,visto por um outro prisma teve a luz de,sintetizando a minha forma de ver,estar e pensar,me ter conduzido ao yoga,desta feita de uma forma séria,consciente e com objectivos bem defenidos.
Foram tempos duros,anos carregados de escuridão,onde muita pouca luz entrava.
Esta catarse não têm uma conotação negativa,as coisas são o que são e foram as minhas escolhas que me colocaram a vivenciar as situações.
A infalível lei do karma,não é mais do que uma oportunidade de aprendizagem que potencialmente transporta a possibilidade de cumprirmos o nosso dharma,caso o ensinamento seja corretamente assimilado.
Quando as encruzilhadas das escolhas efectuadas me colocaram defronte ao ensinamento espiritual,o desespero causado pela vida que levava,pelos ambientes egoístas,pesados e repletos de escuridão que frequentava,falou mais alto e abraçei o ensinamento com todas as forças.De certa forma parecia que me tinha reencontrado com um velho amigo.
No processo criei uma quantidade de expectativas onde o sonho de aprender,viver e estar com pessoas que só tinham e queriam dar amor,onde não tivesse de estar sempre de pé atrás,onde pudesse finalmente relaxar,dominava.Crasso erro.
Cedo descobri que lá por serem ambientes espirituais não eram necessáriamente sinónimo das atitudes e maneiras de estar que tinha imaginado.
As vaidades extremas,os egos mascarados de shanti shanti,as atitudes em tudo falseadas mostrando algo que ao longe se vê a irrealidade e até uma maldicência sobre linhas e tradições antagônicas aquelas praticadas,eram comuns.
Um sentimento de superioridade,vindo de quem praticava relativamente a quem não praticava, delineado com denominativos mascarados de compaixão, do gênero "eles" ou as "pessoas"era comum sempre que se queria louvar algo que se fazia,praticava ou ensinava em determinado ambiente,invariavelmente colocando quem praticava num pedestal auto-eleito,com responsabilidades de pastor em relação ao rebanho que não praticava.
De certa forma também eu vejo e sinto essas responsabilidades, mas não com uma superioridade égoica,são responsabilidades de amor e união.A acção correta traz simplesmente uma responsabilidade tranquila.
Ainda hoje tenho coladas a fita cola várias situações e episódios que transporto com alguma mágoa,e mesmo com o passar do tempo,com o crescente entender da condição humana e a noção de que frequentar estes ditos ambientes não faz de nós seres humanos perfeitos,não deixo de as encarar com muito pouca tolerância e crêdito,mais ainda por essas atitudes partirem de pessoas que pelo tempo de estudo, prática e até mesmo de ensino,terem necessáriamente,ou pelo menos tentar ter,uma outra postura.
Cada vez mais sinto que o ensinamento que faz realmente a diferença é aquele que acontece através dos exemplos,um instrutor que não vive aquilo que ensina não têm credibilidade,tudo o que ensina fica na teoria,as suas palavras não trazem agregado o poder transformativo.
Não é difícil encontrar um professor de yoga carnívoro,e está bem,está no seu processo.
O que não está bem é não admitir esse seu processo,tentando tapar o sol com a peneira com alegações do gênero:Buda também comia carne e atingiu a iluminação.
Evidentemente que, quem está a aprender ou têm o discernimento muito bem afiado ou vai passar muito tempo com uma noção errada sobre a proposta que encerra o ensinamento.Ou sobre Ahimsa.
Outro exemplo recorrente é o de "professores" que utilizam o interesse e paixão inicial que o contacto com o ensinamento produz nas pessoas,em seu proveito próprio,tome ele forma monetária ou emocional.Verdadeiros predadores que utilizam o ensinamento e os sítios onde ele se transmite como seus territórios de caça.
Estas pessoas devido ás responsabilidades que assumiram quando escolheram a via do ensino, de representarem uma tradição de ensinamentos evolutivos,tornando-se elos de uma corrente que vêm desde tempos imemoriais,uma corrente de sábios e instrutores que dedicaram as suas existências a instruir e ensinar a humanidade,assim como pelo contacto prolongado que têm com o ensinamento,deveriam comportar-se de outra forma,pois já sabem as consequências de seus actos,relativamente a eles próprios e ainda pior,relativamente aos que não sabem as consequências que toda e qualquer acção provoca.
Outra aprendizagem dura foi a descoberta que um instrutor espiritual,tome ele a forma de mestre,instrutor ou simplesmente amigo não é algúem que nos passe a mão pela cabeça,ou um amigo como nós o compreendemos aqui no ocidente.
Muitas das vezes é extremamente duro e assertivo,no entanto denotas verdade nas suas atitudes,é alguém que te dá exatamente na medida que necessitas receber.
É aquela pessoa que te toca exatamente onde doí,mas com o intuito de remover a dor.
O que acontece é que as nossas expectativas,ou ilusão, sobre o que seria o"carinho"de um mestre espiritual,assim como o nosso ego,muitas das vezes não nos deixam aprender essas lições,e consequentemente remover as dores.
Mas isto é alguém comprometido com o ensinamento,e não comprometido com a "boa vida" que te dá passar,nestes casos vender,o ensinamento aos outros.Vagarosamente e aos pingos de forma a fazer render o peixe.
E isto não é um discurso apressado,é um discurso de timmings corretos,forjado dentro das diferentes experiências e propostas a que fui aderindo,nesta senda auto-eleita.
Por tudo isto,optei por estudar e praticar sózinho,assim,se me engana-se era por minha cabeça que esse engano acontecia e não por uma outra qualquer razão.
A responsabilidade que assumi juntamente com o ensino,não me premite descuidar a minha prática, tanto na shala (sala de práticas) como fora dela,a bem de satya (verdade).
Muitas vezes sinto falta de algúem que possa tirar-me as dúvidas,ou que me toque nos pontos que dôem.A falta dessa pessoa têm resultado em muitos erros,aprendizagem pela experiência baseada nas constantes tentativas e correspondentes enganos,mas o compromisso que assumi de mim para mim,têm sido um valioso aliado,que me têm levado a trilhar esta senda sempre com ânimo renovado.
Sei que quando estiver pronto o professor vai aparecer.Um daqueles que como humano que é também vai errar,mas a pureza de suas intençoes não deixa que esse erro,mesmo que magoe profundamente,caia em saco roto,pois o que conta é a intenção com que as coisas são feitas.
Até lá,cada queda ou aparente fracasso encerra uma nova possibilidade de visão e caminho.
E a prática constante de yoga,feita com a intenção correta,e com corpo e mente presentes vai-nos mudando para melhor,disto eu tenho a mais profunda certeza.
É através desta convicção exprimentada que,sem deixar de agradecer de coração a todos os que me ensinaram e que fazem parte de meu Puja diário,o meu coração se enche de tristeza quando continuo a preceber as mesmas atitudes de sempre em algumas pessoas que fizeram parte do meu passado e ainda aparecem no presente,embora essa precepção torne contornos mais críticos,talvez por no presente preceber que essas atitudes não são ingénuas.
A estes o meu pedido de desculpas pelos meus pensamentos os pesarem ainda mais,e o sincero desejo de que encontrem o seu caminho,o seu svadharma..
É,para mim,tempo de largar bagagens e seguir em frente,despojando-me do passado,olhando com fé para o presente.
É tempo de não alimentar mais o que deve morrer e de não semear o que não deve nascer.


                                                        


                                                                                                         OM TAT SAT

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