Monday, June 29, 2020

Os YogaSutras de Patanjali, um tema inesgotável

Os YOGA SUTRAS de Patanjali são um dos livros mais poderosos escritos na história da humanidade.
É um daqueles, poucos, livros que pode mudar a vida de quem o estuda, têm a sorte de o entender e pôr em prática os ensinamentos nele contidos, sózinho (possivél mas bastante improvavél) ou através de um Mestre.
Os Sutras além de terem sido, desde a sua codificação, e continuarem a ser, a base, o ponto de partida de todas as linhas de pensamento, escolas e práticas de yoga, ainda comportam o mérito de serem o incentivo de centenas de ensaios, infindaveis comentários e um sem numero de livros sobre o tema.
Pelo que me têm sido dado a observar durante os anos de prática e estudo do yoga darshanam, e, consequentemente, frequentar estes ambientes de forma mais ou menos assidua, acredito, sem sombra de dúvida, não existir um único praticante de yoga, digamos com um ano de prática, que não tenha lido os Yoga Sutras pelo menos uma vez, e que na continuação da sua prática de yoga não venha a sentir a necessidade de os ler/estudar, assim como os seus comentários mais famosos, visando o aprofundamento da sua compreensão.
Por outro lado é também minha convicção de que centenas de praticantes, das mais diversas religiões e tradições religiosas, nunca tenham lido os seus livros mais sagrados, não estando com o estabelecer desta comparação a chamar religião ou doutrina ao Yoga.
O yoga é uma filosofia (darshan) prática, talvez a única no mundo.
Desde a sua origem que os Sutras são um best-seller; compostos por 193 ou 196 aforismos, numero sobre o qual não existe consenso devido a se acreditar que o estilo gramatical, de escrita e de exposição dos ultimos aforismos não ser identico aos restantes sutras, dando assim origem á tese que postula estes terem sido acrescentados somente uns séculos depois da codificação original de Patanjali.
Aliás, tanto já foi escrito sobre os sutras que um sem numero de especulações paira sobre eles, sendo umas mais crediveis que outras, como a que, a titulo de exemplo, afirma que os yoga sutras se referem a uma linha de yoga, vinda dos tempos védicos, conhecida por Kriya yoga, e que atingiu o seu auge de popularidade, no ocidente, através dum famoso livro de Swami Paramahansa Yogananda intitulado "Autobiografia de um yogui".
Um classico apaixonante e brilhantemente redigido que têm a particularidade de nos levar numa viagem alucinante ao fascinante e mágico mundo dos yoguis da índia.
A sua escrita descritiva toma dimensões tão reais que não conseguimos parar de o ler, avidamente, desde as primeiras linhas até ao inevitavél fim, que sem resultado tentamos adiar.
Nesta obra Swami Paramahansa yogananda apresenta-nos a prática de Kriya yoga numa linha de sucessão e transmissão (parampara) que nos leva até Babaji,o yogue Crístico, atribuindo-lhe desta forma uma antiguidade que supera a criação do mundo no presente Dia de Brahman, com os mavantaras e yugas que o caracterizam e conduzem á dissolução, pralaya, dando assim origem á noite de Brahman.
O facto de um aforismo, ou sutra, ser um condensado de sabedoria, escrito em sanscrito, que se vai desvelando a medida que a consciência do discipulo se expande, têm ajudado ao aparecimento das várias intrepretações sobre cada sutra e seu conteudo, apesar de haver uma concordância total acerca da prática conduzir ao samadhi e finalmente desembocar no estado de kaivalya.
Só para termos uma ideia da complexidade de um sutra vejamos como Patanjali começa os Yogasutras,
o 1º Sutra afirma: " Atha yoganuçasana", o que numa tradução simples será algo como " Agora os mais altos ensinamentos do yoga", mas que para um iniciado transporta verdadeiramente as ideias de que:
1- Agora que conseguiste chegar até aqui, através dos méritos adquiridos nesta e em vidas passadas, estás pronto a receber os ensinamentos do yoga.
2- Os ensinamentos são para ser seguidos á letra, não estão abertos a discussão ou alterações.
3- São apresentados para que possas reger a tua vida através deles
4-São para ser preservados, exatamente como estão, e assim servirem as gerações futuras.
A forma como entendemos os Yogasutras De Patanjali, também conhecidos por Ashtanga yoga, Raja Yoga, Patanjala yoga, entre outras nomenclaturas, vai muito além de uma simples codificação de um manual de práticas.
Estes 193 sutras carregam a herança da Mãe índia para a humanidade, toda uma sabedoria, adquirida por tentativa e erro, que remonta á tenra idade em que a procura pela verdade cosmica começou a preocupar a Índia e as suas gerações infindaveis de homens Santos.
Os Sutras representam, de certa forma, um pioneirismo sem data, que procura entender em que difere o homem histórico do homem cosmico. Representam, em sua essência, o inicio do pensamento filosófico, que, em nosso entender, é o verdadeiro nascimento da Humanidade.
Pensamento que nos desvelou uma consciência que nos premitiu deixar de lutar pela sobrevivência e começar a expressar a criatividade com que o universo nos dotou, e nos têm transportado, num ritmo de impeto criativo impressionante, até ao presente seculo.
O facto de se datar a composição dos sutras entre 200 a.c. e 400 d.c., é por si só um atestado da antiguidade destes ensinamentos.
O próprio Patanjali afirma que não está a inventar nada de novo, simplesmente a codificar, por escrito, todos os ensinamentos e técnicas cuja funcionalidade, comprovada por seculos de exito, tinha até então assistido a todos aqueles que a chamada "vida normal" ( vida profana nas palavras de Mircea Eliade) já não era suficiente, e, que sabendo que o macro se reflete no micro, e vive-versa, procuraram nas profundezas do seu Ser as verdades côsmicas e a realização do Self.

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