Já foi dito que se tudo o que existe sobre Hinduismo e yoga desaparece-se, e só se salva-se o Bhagavad gita,A canção do senhor,tanto o sánathana dharma (a cultura hindu baseada na busca permanente daquilo que têm os atributos da eternidade),como o yoga estariam salvos.O facto de toda a acção do Gita se passar num campo de batalha,com Krishna,que é uma encarnação de Vishnu,e portanto Ishvara,a incentivar Arjuna a combater,e cumprir o dharma torna,a meu ver,o texto delicioso.Enquanto temos a noção ocidentalizada de o ensinamento espiritual ser passado por um mestre,sentado debaixo de um árvore com os discipulos a sua volta falando de paz e amor, passarinhos a chilrear e o barulho de uma cascata como som de fundo,tudo num cenário idílico, o Guita aparece-nos antecipando a longa distância o famoso "to be or not to be?" com um "to fight or not to fight?",com a instrução espiritual a acontecer no meio de espadas a bater em escudos,trompetas de guerra,o som das shankas,etc,desembocando numa guerra devastadora e sangrenta,em ordem de proteger o dharma,a lei eterna.O dharma é o tema central do cântico,e o foco é o yoga.
--Resumo da Bhagavad Gita,A canção do Senhor por Carlos Eduardo Barbosa(Autor da transliteração "Os yogasutras de Pañtanjali"professor e estudioso de sânscrito,cultura hindu e ele próprio yogue)
A Bhagavad Gita é um texto construído ao longo de dezoito capítulos onde se descreve o
diálogo entre dois primos, Arjuna e Krishna, que estão num campo de batalha, no momento
em que uma grande guerra está para se iniciar. Arjuna é o comandante supremo de um dos exércitos e será a sua decisão que definirá se haverá guerra ou não.
Os dois são membros da família lunar, que é retratada no texto épico Mahabharatam, do qual
a Bhagavad Gita é apenas uma parte (a família solar é retratada no Ramayana, um outro épico
indiano).
Os seis primeiros capítulos apresentam em termos gerais o conceito de yoga épico. Os seis
capítulos seguintes (7-12) tratam da relação do indivíduo com o Ishvara (o eu supremo dentro
de nós). Os últimos seis capítulos (13-18) tratam da relação do indivíduo com a natureza
manifestada, como um todo, sendo o último capítulo também um breve resumo de toda a
mensagem da Gita.
CAPÍTULO 1
A ANGÚSTIA DE ARJUNA
Arjuna não tem certeza se deve iniciar a guerra, e entende que é uma afronta ao Dharma da
família atacar parentes. Ele teme que a família vá enfraquecer e se degenerar. Então ele diz a
Krishna que vai desistir.
CAPÍTULO 2O SAMKHYA
Krishna começa a resposder a Arjuna, esclarecendo inicialmente que a vida é cheia deparadoxos, e que os Samkhyas ensinam a usar o discernimento para lidar com isso. A seguir eleesclarece o Yoga, que é definido como o uso da Inteligência (buddhi) focada, o que leva àlibertação. O resumo do yoga é dado ao final deste texto.
CAPÍTULO 3
O KARMA
Nossa natureza nos obriga a agir. Não agir é um erro. Mas a ação deve ser feita de modo quenão nos prenda a esse mundo, ou seja, deve ser desapegada. O guna Rajas, que nos faz agirpode se tornar o grande inimigo se não houver o desapego.CAPÍTULO 4
A COGNIÇÃO (JÑANAM)
Krishna afirma a antiguidade da sabedoria do yoga, e introduz o conceito de renascimento. Eleexplica que é preciso haver uma transformação na nossa cognição, que deve estar purificadapelo sacrifício e pelo tapas. A cognição com discernimento destrói a dúvida e purifica a ação –o que viabiliza o yoga.
CAPÍTULO 5RENÚNCIA À AÇÃO RITUALIZADA (KARMASAMNYASA)
Samkhya e Yoga dão o mesmo resultado, mas sem yoga fica mais difícil a renúncia. Ainteligência focada nos dá a percepção que permite agir sem apego. A renúncia ao fruto daação nos mantém na pureza do Atma (o si-mesmo).CAPÍTULO 6
DHYANAM (SAMYAMA – A MEDITAÇÃO)
Aqui se trata do Samyama, a meditação, cujo fundamento é o equilíbrio. Esse equilíbrio
também pode ser obtido pela alimentação equilibrada ou por outros cuidados. Nesse capítulo
se descreve a prática do yoga, que é bem semelhante àquela proposta por Patanjali. Afirma-se
que o ideal do Yoga supera a perfeição dos sacerdotes, intelectuais e santos (karmi, jñani e
tapasvi)
CAPÍTULO 7VIVÊNCIA E DISCRIMINAÇÃO (JÑANAM E VIJÑANAM)
Neste capítulo se afirma que precisamos conhecer apenas o Ishvara, que se oculta por trás decada criatura, naquilo que elas têm como sua origem ou seu traço distintivo. Quandoeliminamos a separação e a dualidade, a mente se torna firme e vivemos o Ishvara.CAPÍTULO 8
AKSHARA BRAHMA (BRAHMA EM UMA SÍLABA)
Aqui Krishna ensina o método de concentrar o prana na cabeça, como acontece no momentoda morte e compreender o Om como a pura manifestação do indestrutível. Fala também sobrea dualidade usando os dias e noites como ilustração, traçando sua relação com a vida eterna.CAPÍTULO 9
A SABEDORIA E O SEGREDO DOS PODEROSOS
Trata do compartilhamento (bhakti) como um rito de empoderamento. Quem compartilhacom o divino sua capacidade de atenção e tem desapego, recebe em troca a liberdade e poder absolutos.CAPÍTULO 10
O QUE APARECE (VIBHUTI)
Krishna diz que dá o poder da ação desinteressada para aqueles que focam sua atenção noIshvara. Descreve depois como se pode perceber a presença do Ishvara nas coisas que sedestacam (a perfeição em cada categoria). Não é preciso ter a visão da totalidade, masqualquer fração já tem o poder de levar ao todo.
CAPÍTULO 11A VISÃO DE TODAS AS FORMAS
Arjuna pede para ver o todo, a forma plena do Ishvara (Krishna). Krishna revela todo o
universo dentro de si, devorando tudo o que existe – e isso assusta Arjuna. Ele compreende
que não é o agente, mas apenas um instrumento da guerra.
CAPÍTULO 12BHAKTI
Arjuna quer saber quem são os melhores yogis dentre aqueles que emprestam sua atenção aoIshvara, e Krishna revela que são os que buscam a natureza imperecível e se dedicam aosdemais e não a si mesmos. A renúncia aos frutos produz a Paz.CAPÍTULO 13
O CAMPO E O CONHECEDOR DO CAMPO
Arjuna quer saber mais sobre o conhecimento e o que deve ser conhecido. Krishna explica queo corpo é o campo e que o conhecedor do campo é quem conhece esse corpo, formado porprincípios metafísicos e habitado pelas atividades da mente. Só conhece verdadeiramente essecorpo mítico quem realiza o yoga e pratica o renunciamento.
CAPÍTULO 14DISCRIMINAÇÃO DOS TRÊS GUNAS
Aqui se descreve três tipos diferentes de relação entre o indivíduo imperecível e o mundo
destrutível. E o yogi deve superar as três e se colocar além de quaisquer dualidades.
CAPÍTULO 15O PURUSHA SUPREMO
Dentro de nós se alojam duas pessoas, uma destrutível e uma indestrutível. Acima das duas
está o Purusha Supremo, que é a fonte da vida. A independência libera o yogi da gigantesca
árvore dos rituais, cujas raízes estão no céu e cujas folhas são os versos do RigVeda.
CAPÍTULO 16DISTINÇÃO ENTRE ASURIKA E AISHVARYA
Krishna descreve a natureza que rejeita o Ishvara e que está destinada ao sofrimento e à
destruição. Por rejeitar o Ishvara em si mesmo e nos demais, essa natureza se torna incapaz dealcançar a perfeição.
CAPÍTULO 17AS TRÊS FORMAS DE FÉ
Este capítulo curto explica os três tipos de fé, que produzem três tipos de tapas e de sacrifício(doação). A presença da fé dá legitimidade ao fato e determina se ele é verdadeiro ou não.CAPÍTULO 18
RENÚNCIA À LIBERTAÇÃO
Este capítulo resume toda a obra, e informa que para alcançar a meta final de libertação épreciso renunciar até mesmo ao próprio objetivo final, a libertação. Ele se fundamenta no fatoque a libertação não se aplica ao que é verdadeiro, pois o verdadeiro indivíduo em nós já é
livre e imortal por natureza.
UM RESUMO DO YOGA ÉPICO
Os princípios do Yoga, segundo a Gita, podem ser descritos pelos seguintes tópicos:
1. A inteligência deve estar focada, e não dividida (2.41)
2. A inteligência deve estar focada no fazer, e não no resultado da ação, nem tampouco na
inação. (2.47)
3. Yoga é equanimidade, equilíbrio (samatvam). (2.48)
4. Yoga é excelência nos afazeres. (2.50)
5. Quem domina a inteligência fica sereno em meio ao tumulto.
6. Não há controle da inteligência sem Yoga.
7. Utilizando o si mesmo como referência, o yogi, liberado de suas máculas, alcança com
facilidade o bem estar supremo, que é o contato com Brahma (6.28)
8. A separação daquilo que nos une ao doloroso é conhecido como Yoga (6.23)
O sábio Vyasa é o autor do épico Mahabharata,onde por vezes também é protagonista,e é Ganesha quem escreve os relatos da história contada por Vyasa,assim conta a lenda.É um dos primeiros Épicos da humanidade,e porventura o maior.Do épico, de que a Bhagavad gita é apenas um trecho como já foi referido acima,participam sábios,reis,criaturas fabulosas ,Deuses e demónios.
Espero que este pequeno,mas muito útil resumo lhe tenha aberto o apetite para uma leitura Épica a todos os níveis.Uma sugestão para a leitura do Bhagavad Gita é a de o amigo leitor primeiro lêr o capítulo e depois,só depois para não ser uma leitura influenciada, compara-lo com o resumo do capítulo correspondente,que aqui disponibilizo,para entre os dois retirar o que lhe fizer sentido.
Swami Venkatesananda é de opinião que o Gita seria o texto yogue a levar para uma ilha deserta,e para reforçar esta sua opinião e fé no texto,disponibiliza-o para download gratuito no seu site(através do nome do swami chega-se ao site).
OM TAT SAT
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